Os seres humanos têm uma adaptação curiosa ao calor que nos diferencia de outros animais. Suamos muito, choramos, urinamos em grande quantidade e até as nossas fezes são mais líquidas em comparação com outros mamíferos. Este comportamento é especialmente estranho se pensarmos na teoria da savana, que sugere que os nossos ancestrais evoluíram em ambientes secos e quentes onde a água era um recurso precioso. Nessa situação, desperdiçar tanta água não faria sentido, certo?
Aqui entra uma teoria alternativa chamada “Hipótese do Macaco Aquático”, proposta pela antropóloga Elaine Morgan. Segundo ela, muitos dos nossos traços fisiológicos e anatómicos, como a nossa abundante camada de gordura sob a pele e a capacidade de suar de forma tão eficaz, fazem mais sentido se pensarmos que os nossos antepassados possam ter vivido em ambientes aquáticos ou semi-aquáticos. Nestes ambientes, a água estaria sempre disponível, permitindo-nos desenvolver estas características sem grande preocupação com a perda de água.
Apesar das críticas que esta teoria recebeu ao longo dos anos, ela oferece uma explicação interessante para o nosso comportamento em relação ao calor. Por exemplo, enquanto cães e gatos, que têm glândulas sudoríparas apócrinas, precisam de ofegar para se refrescar (o que é pouco eficiente e desgastante), nós conseguimos manter a nossa temperatura corporal sob controlo através do suor. Aliás, um maratonista bem treinado consegue correr longas distâncias em climas quentes sem sobreaquecer, algo que seria impossível para muitos outros animais.
Esta adaptação única que temos ao calor deveria também influenciar a forma como cuidamos dos nossos animais. É comum ver pessoas a correr com os seus cães ao meio-dia, quando o calor está no pico. No entanto, muitos não sabem que os cães não conseguem dissipar o calor tão bem como nós. O ofegar ajuda, mas não é suficiente, e o risco de um golpe de calor é real e perigoso para eles.
Resumindo, a nossa capacidade de lidar com o calor é uma particularidade evolutiva que nos distingue, mas isso não significa que os nossos animais de companhia consigam o mesmo. É importante estarmos conscientes dessas diferenças para garantir o bem-estar dos nossos amigos de quatro patas.